Em primeiro lugar devemos nos perguntar: porque estamos procurando um mestre? Será porque estamos confusos ou infelizes? Ou temos um problema e não sabemos como resolvê-lo? Queremos progredir mais em nossa meditação? Queremos encontrar a verdade ou Deus?
Em resumo estamos perdidos e queremos alguém que nos guie, alguém que aja como um pai e nos mostre como superar a nossa dor, afinal, se estivéssemos plenamente felizes, soubéssemos para onde estamos indo e não tivéssemos problema nenhum, o mestre não seria necessário.
Um buscador espiritual procura um mestre para lhe apontar o caminho, para lhe ensinar um modo de vida, para que desfaça a sua confusão. O buscador procura um mestre de acordo com a sua necessidade, dificilmente você escolheria um mestre que lhe diga “pense por si mesmo”, “dependa de si mesmo” ou “solucione você mesmo”.
O que se busca na verdade é alguém que diga o que devemos fazer, alguém que solucione a nossa confusão, mas afinal, quem criou essa confusão? Eu criei a confusão, eu criei o meu conflito, então somente eu posso solucioná-lo.
É por não entender a minha confusão, o meu conflito, a minha dor que procuro um mestre, pensando que ele me ajudará. Mas somente você pode compreender a si mesmo, somente você pode resolver os seus conflitos.
Para resolver esse dilema você tem que conhecer a si mesmo, ouvir a si mesmo, conscientizar-se, para isso é necessário um mestre? Se você tem um pingo de autoconhecimento um mestre é totalmente dispensável.
Nenhum mestre pode lhe dar autoconhecimento, nenhum livro, nenhum texto sagrado, é uma questão de observar seriamente a si mesmo em seu relacionamento com os outros e com o mundo. Existir é relacionar-se e não perceber a forma como você se relaciona com as coisas é a causa do sofrimento.
Outra pessoa pode lhe apontar o caminho, mas é você que tem de caminhá-lo, como você não quer ter o trabalho de encontrar o caminho passa essa responsabilidade para o mestre, você não quer entrar em contato com a sua dor, quer simplesmente que alguém a afaste, quem o fizer você chamará de mestre.
Não é importante descobrir quem é o seu mestre, mas porque você o procura, você o segue para se tornar alguma coisa que ainda não é, você quer ser alguma coisa, quer ter algum ganho. Você quer alcançar uma posição importante na hierarquia espiritual e quer ser chamado de mestre um dia. Você pode persuadir-se que essa posição é inevitável, que é seu destino, mas enquanto você quer tornar-se algo haverá ilusão e sofrimento.
Você procura um mestre para se sentir especial e quer se tornar mestre um dia, isso é muito fácil porque as pessoas querem ser controladas, querem abdicar da responsabilidade sobre si mesmas. Ter um mestre é gratificante, ele lhe elogia, diz que você está progredindo, então você se sente importante e orgulhoso.
Uma das fugas mais fáceis é o mestre, é uma forma de segurança psicológica, por isso as instituições religiosas e os mestres são abundantes e exercem um controle tão grande sobre as pessoas.
O culto ao mestre se torna uma adoração à personalidade, você não é importante, o mestre é. Você é apenas um servidor e para encontrar segurança e proteção no mestre algumas pessoas se submetem as maiores barbaridades.
Alguns meses atrás fui a um encontro em grupo com um renomado mestre da atualidade, depois de muitas piadas engraçadas e nenhum ensinamento transmitido comentei com algumas pessoas que não tinha gostado da palestra, irritados disseram que eu estava sendo preconceituoso. Será que era eu que estava sendo preconceituoso? Ou o prejulgamento era deles, que por admiração prévia aceitavam qualquer baboseira que o tal mestre falava sem nenhuma contestação.
Com que entusiasmo uma pessoa com um título é recebida, se é um Lama ou um Sanyasim, se tem mestrado em física quântica ou doutorado em psicologia, os seguidores se penduram em volta dos famosos, ansiosos por possuírem também um título que enalteça a sua evolução espiritual.
Perguntaram-me se eu já tive um mestre, respondi que não, mas tive muitos amigos que me instigavam a pensar por mim mesmo e a descobrir por mim mesmo as minhas respostas, me ensinaram a não fugir dos meus problemas, a encará-los, porque o problema era meu e somente eu tinha a resposta para solucioná-los.
Uma dessas pessoas que me inspirou a pensar por mim mesmo foi o educador Jiddu Krishnamurti, cujas palestras me fizeram questionar por mim mesmo qual a realidade sobre esse tema, pense por si mesmo e solucione você mesmo essa questão.
André Oliveira Copirigth2011Yogazen