Quies – O Repouso Sagrado

O Ser humano é do Gênero e espécie Homo Sapiens; da família: Hominidae (Hominídios); da Ordem: Primates (Primatas); da Classe: Mammalia (Mamíferos); do Subfilo: Vertebrata (Vertebrados); do Reino: Animal (Animalia), e ao longo do seu processo de evolução, luta, fuga e sobrevivência nossa espécie se tornou uma criatura de natureza muito agitada e inquieta. 

A agitação e a inquietude fazem parte da natureza humana desde os tempos pré-históricos, esta índole e comportamento foi herança de nossos ancestrais, ainda hoje na sociedade moderna, vemos que a natureza humana é agitada, nós vemos isso na correria da cidade, na impaciência no trânsito, nas brigas e discussões no trabalho, nos conflitos emocionais em que nos metemos e na ganância e cobiça das pessoas. 

Nós construímos uma sociedade e um modo de vida que acentua nossa agitação e inquietude, compromissos constantes, necessidade de cumprir horário de trabalho, prazos cada vez mais curtos para cumprir as metas, redes sociais, excesso de informações nos jornais e noticiários, festas e jogos de azar.

Um sentimento de insatisfação e incompletude nos impele em uma busca infindável para nos completar e satisfazer. Existe na natureza humana uma sede pelas experiências excitantes e intensas, o que nos impulsiona para as mais diferentes situações e problemas. Quando jovens queremos estar nas festas e com os amigos, quando adultos queremos casar e ter filhos ou viagens e compras. 

É como se nós fossemos insaciáveis e precisássemos matar a fome a todo momento, ao alcançar um objetivo já estamos desejando outro, é uma busca constante e sem fim. A inquietude do ser humano está relacionada a uma insatisfação em relação à vida, como se nada do que fizermos nos tornará completos, essa inquietude e insatisfação constante são as causas de nossa busca espiritual, pois queremos por fim a esta aflição. 

"No arrependimento e no descanso está a salvação de vocês, na quietude e na confiança está o seu vigor, mas vocês não quiseram." Isaías 30:15

A agitação faz parte da nossa vida cotidiana e profana, por isso quando paramos e descansamos esse repouso é equivalente ao paraíso, o momento de relaxamento se torna algo especial, a quietude é sagrada. 

Quies é o nome deste estado de profunda quietude interior na tradição da meditação cristã advinda dos monges do deserto, é equivalente no Budismo ao Nirvana, ou no Yoga ao Samadhi, a iluminação. É um estado onde todas as buscas terminaram, não há mais o sentimento de insatisfação e incompletude, é quando descansamos tranquilos em um repouso sagrado. 

Com as práticas meditativas encontramos o Quies, este estado de espírito que nos permite repousar mesmo em meio a agitação da vida. No Taoismo há uma prática de meditação chamada Jing zuo que significa "sentar na calma" onde se cultiva um estado de quietude interior.

“O movimento vence o frio 

A quietude vence o calor 

A pureza e a calma são as regras do universo.” 

Tao te King vers.45

Sendo a agitação parte da nossa herança genética, quando cultivamos um estado de quietude estamos avançando no processo evolucionário de nossa espécie, ao praticar calma e tranquilidade estamos promovendo uma profunda mudança em nossa estrutura cerebral e uma verdadeira mutação em nosso DNA.

Na quietude existe uma grande energia acumulada e uma profunda capacidade de observação, entendimento e clareza mental, somente aqueles que sabem se aquietar, sabem o momento certo de agir.

“O reino da quietude que os sábios conquistam pela meditação é também conquistado pelos que praticam ações; sábio é aquele que compreende que essas duas coisas – a consciência intuitiva e a ação prática – são uma só em sua essência.” 

Bhagavat Gita 5:5

André Oliveira é coordenador do Yogazen em Porto Alegre onde ministra aulas regulares de yoga e meditação desde 2004, professor docente pelo Instituto Yoga Integrativa no centro de yoga Montanha Encantada em SC, coordenador da Formação Livre em Meditação, desenvolve diversos cursos e retiros voltados para o autoconhecimento, o curso básico de meditação já recebeu mais de 250 alunos, no curso de formação profissional em meditação já formou mais de 180 professores. 

Aulas Online - O professor está ministrando aulas de Yoga Meditação Online com grupos regulares, para participar das aulas entre em contato: 

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yogazen.brasil@gmail.com 

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Vikarman – O papel da Não-Ação

Vou falar hoje sobre Vikarman a não-ação, em um mundo onde somos julgados e avaliados por aquilo que realizamos, onde precisamos trabalhar diariamente para sustentar nosso modo de vida, lutar constantemente para conquistar nosso espaço, qual o papel da não-ação em nossas vidas?

Em primeiro lugar precisamos entender que viver é agir, a ação está presente em tudo aquilo que fazemos, agir tem um papel fundamental em nossas vidas, quando nos relacionamos com os outros estamos agindo, quando estamos acessando as mídias sociais, até mesmo quando estamos pensando estamos agindo no plano mental. 

Em segundo lugar é preciso entender que não-ação (vikarman) não significa inação, ficar estagnado, não agir é diferente de fugir da ação, fugir da ação é covardia, mas é preciso de sabedoria para saber distinguir o momento certo de agir e o momento de aguardar que as coisas se resolvam naturalmente no seu próprio tempo. 

Quando desenvolvemos um projeto ele precisa de tempo para se concretizar, quando plantamos uma árvore precisa de tempo até ela dar frutos, precisa de tempo para uma criança virar um adulto, todas as coisas têm seu tempo, sabedoria é saber aguardar o tempo certo de cada coisa e esperar até momento auspicioso para somente então agir. 

A não-ação é uma pausa, um intervalo que criamos entre um estímulo e uma resposta para ter tempo de ver a situação com mais clareza, evitando reagir automaticamente. Ao agir impulsivamente corremos o risco de agir incorretamente (akarman – ação incorreta), falamos palavras que não gostaríamos de ter dito, fazemos coisas das quais nos arrependemos. 

Não agir e aguardar nos dá o tempo necessário para observar uma situação sem ansiedade, quando a ação externa repousa, uma ação interna se inicia, assim temos tempo para refletirmos e definirmos qual o melhor curso da ação. 

A não-ação está presente na prática de yoga, o próprio ato de praticar yoga implica um retirar-se do mundo das ações, se afastar de todos os acontecimentos da vida, não para fugir, mas para ganhar mais espaço e amplitude de visão para uma melhor compreensão de si mesmo e do mundo. 

Na prática das posturas de yoga, os ásanas, deve-se manter um longo período em permanência sem se mexer, respirando profundamente, externamente parece que o praticante não está fazendo nada, está parado, mas internamente um trabalho muscular e psicoemocional muito profundo está sendo realizado. 

Segundo um texto da literatura clássica do hinduísmo a Bhagavat Gita, existe uma distinção entre o reto-agir (naiskarman), o não-agir (vikarman) e o falso-agir (akarman). Em muitos momentos acreditamos estar agindo corretamente, mas na verdade estamos apenas reagindo a um estímulo externo, neste caso nossa ação é falsa. 

No Taoismo a não-ação é chamada de Wu-Wei significa que quanto mais permitimos que o mundo siga seu fluxo natural, melhor para todos, pois a natureza possui sabedoria intrínseca, não-ação consiste em se evitar qualquer ação desnecessária, um dos eixos do Wu-wei é o de aprender a esperar e observar, realizar as coisas com naturalidade, sem engenhosidade, sem excesso de predeterminação, sem especulação. 

“Sem ir além de nossa porta 

Podemos conhecer o mundo. 

Sem sair de nossa janela 

Podemos conhecer os caminhos do céu. 

Quanto mais longe vamos tanto menos avançamos. 

Por isso, o sábio: 

Sem caminhar, alcança sua meta 

Sem ver, tudo observa 

Sem agir, tudo realiza.” 

Lao Tsé 

O que o Taoismo chama de não-ação é, na verdade, uma ação sem intenção, uma ação não intencional ou uma ação livre do ego, o que é muito similar ao entendimento do Vedanta* de “desapego na ação” (Karma-Yoga) que visa transcender a intenção egoica da ação. 

Esse conceito de “desapego na ação” não significa desistir da ação nem mesmo desistir dos frutos da ação, mas sim desistir de controlar e se apegar os resultados das tuas ações. O que importa é fazer a coisa certa, mesmo que o resultado produzido não te agrade, quando o ego está presente na ação, pensamos somente no resultado que nos beneficia, mesmo que se faça a coisa errada e acabe prejudicando os outros. 

"Quem a tudo renuncia, alcança, já agora, a mais alta paz de espírito; mas quem espera vantagem de suas obras é escravizado por seus desejos."

Bhagavat Gita

Neste tempo de crise que estamos vivendo hoje, em plena pandemia**, há muito pouco o que podemos fazer para melhorar a situação da sociedade, o melhor a fazer neste momento é não fazer nada e aguardar pacientemente que as coisas sigam seu curso e naturalmente se resolvam, mantendo-se em isolamento e respeitando o distanciamento social. 

*Uma das seis escolas de filosofia clássicas da índia. 

**Brasil 01/04/2021 – mais de 3.500 mortos por dia.

André Oliveira é coordenador do Yogazen em Porto Alegre onde ministra aulas regulares de yoga e meditação desde 2004, professor docente pelo Instituto Yoga Integrativa no centro de yoga Montanha Encantada em SC, coordenador da Formação Livre em Meditação, desenvolve diversos cursos e retiros voltados para o autoconhecimento, o curso básico de meditação já recebeu mais de 250 alunos, no curso de formação profissional em meditação já formou mais de 180 professores. 

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