Aqueles que praticam Yoga devem se perguntar: qual o motivo de praticar yoga? Se nós vamos às aulas de yoga meramente para nos entretermos, para nos ocuparmos com alguma atividade, para distrair nossa mente ou para nos divertirmos estamos praticando pelos motivos errados.
Yoga não é para divertir a nossa mente, a palavra divertir vem da raiz dividir; a diversão é aquilo que divide a mente, yoga significa o oposto: união. Posso me divertir com uma brincadeira enquanto deixo os meus problemas de lado, se divertir é se dividir em dois. Interessante notar que a palavra diabo vem da mesma raiz: dividir. O diabo é aquilo que nos divide, enquanto Deus é aquilo que nos une.
Tampouco devemos praticar yoga para ocuparmos nossa mente, uma mente ocupada é uma mente cheia, incapaz de estar em silêncio. Aprender a estar em paz com a experiência do silêncio sem tentar fugir disso através do computador ou da televisão deve ser a nossa intenção quando praticamos yoga.
A aula de yoga não é uma fuga dos nossos problemas diários, é um momento onde procuramos desenvolver e aperfeiçoar nossa sensibilidade para estarmos mais atentos para resolvermos os problemas quando eles surgem. Yoga é integração; é estar inteiro em todos os momentos; é ampliar sua consciência sobre todas as dimensões do teu Ser; é sair do automatismo e do estado de amnésia física e emocional em que vivemos.
Precisamos baixar nossos muros de proteção para podermos compreender a essência desse ensinamento, o conhecimento depende mais de quem recebe do que de quem transmite. Don Juan de Marcus, o xamã consultado por Castañeda, dizia que precisávamos de poder pessoal para incorporar o conhecimento como parte de nossa vida, se não temos esse poder o conhecimento, por mais elevado que seja, passa pelos nossos ouvidos mas não nos transforma.
Buddha Sakyamuni tinha um discípulo fiel, chamado Ananda, que significa “o bem-aventurado” era seu aluno favorito, muitas vezes Ananda reclamava para Buddha que ele já o estava seguindo havia muitos anos e ainda não atingira a iluminação, enquanto os cinco primeiros discípulos de Buddha atingiram a iluminação rapidamente.
Sakyamuni então explicava que aqueles cinco primeiros discípulos haviam se preparado previamente por muitos anos para que ao receber uma só gota dos ensinamentos de Buddha o cálice do conhecimento transbordasse, enquanto ele, Ananda, precisava passar por essa fase de preparação para adquirir força e sabedoria, podendo assim estar pronto para incorporar o conhecimento como parte de si mesmo.
Muitas vezes alunos vem até mim ao final da aula dizendo: “essa aula foi especialmente para mim”. Eu respondo: “todas as aulas são para você”, o que aconteceu foi que nesta aula você estava pronto para compreender o ensinamento que foi transmitido, e incorporá-lo como parte de sua vida, o conhecimento quando usado de forma prática é transformador.
Muitas vezes em aula eu acabo repetindo com minhas próprias palavras e com meu próprio entendimento as idéias de grandes pensadores e filósofos, frases de efeito e de poder. Ainda assim, não importa se eu repetir Platão ou Shankaracharya, depende de você estar pronto e receptivo para compreender e assimilar o ensinamento.
Eu digo em aula: “esteja presente, relaxado e ao mesmo tempo vigilante”; essa pode ser somente uma frase bonita que entra por um ouvido e sai pelo outro ou pode mudar a sua vida! Depende somente de você.
André Oliveira, coordenador do Yogazen no Brasil, leciona em Porto Alegre
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