Apprehendere - Cada dia um aprendizado

Um grande problema em nossa rotina de vida é nós ficarmos estagnados e não avançarmos, não progredirmos como seres humanos, seja fisicamente trabalhando o corpo e sua musculatura, ou intelectualmente avançando em nossos estudos e leitura ou ainda psicologicamente desenvolvendo maturidade emocional. Resumindo, é uma armadilha ficarmos cristalizados em um patamar sem desenvolver todo o potencial de que somos capazes.

Para desenvolver este potencial é preciso não apenas treinamento constante, mas manter-se em um estado mental  de constante aprendizado, pois o aprendizado possibilita que se avance no auto aprimoramento. A raiz da palavra aprendizado vem do latim Apprehendere e  significa pegar, agarrar, tomar posse, prender. Muitas vezes lemos e recebemos conhecimento, mas não o pegamos, não tomamos posse, não o colocamos em prática o que foi aprendido e acaba se perdendo.

"É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer." 

Aristóteles

A prática das técnicas do yoga permitem que se chegue a um estado mental muito receptivo e aberto onde o aprendizado se torna constante, não apenas um acúmulo de conhecimentos, mas a incorporação deste conhecimento à nossa vida. Uma mente aberta ao aprendizado é uma mente altamente observadora, sensível, perceptiva.

Para aprendermos algo nossa mente tem que estar totalmente limpa, tranquila, alerta, não podemos estar apegados às conclusões do passado. Uma mente que está apegada às experiências e conclusões do passado não é uma mente livre e, portanto não está aberta para aprender coisas novas.

Para receber um ensinamento nossa mente tem que estar livre, assim cada dia traz um novo aprendizado e a vida se torna uma escola. 

"A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais."

Aristóteles

André Oliveira é coordenador do Yogazen em Porto Alegre onde ministra aulas regulares de yoga e meditação desde 2004, professor docente pelo Instituto Yoga Integrativa no centro de yoga Montanha Encantada em SC, coordenador da Formação Livre em Meditação, desenvolve diversos cursos e retiros voltados para o autoconhecimento, o curso básico de meditação já recebeu mais de 250 alunos, no curso de formação profissional em meditação já formou mais de 180 professores. 

Aulas Online - O professor está ministrando aulas de Yoga Meditação Online com grupos regulares, para participar das aulas entre em contato: 

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yogazen.brasil@gmail.com

Karma - Toda ação gera um resultado

Com a prática do yoga e da meditação nós desenvolvemos uma capacidade mais apurada de observação, aprendemos a olhar com uma mente calma e tranquila, assim conseguimos ver claramente, sem ansiedade, temor e sem prejulgamentos. 

Essa capacidade de observação deve ser utilizada para ver a si mesmo, a auto observação, a fim de cultivar o autocuidado, desenvolver equilíbrio em nossas vidas e adquirir autoconhecimento. A capacidade de observação também deve ser utilizada para olhar à nossa volta, para ver o mundo exterior, vermos o que está acontecendo de errado em nossa sociedade, os problemas que estamos enfrentando, as pessoas que estão conosco nessa crise. 

Afinal todos queremos viver em um mundo cada vez melhor, com menos injustiças, mais igualdade, menos doenças e para conduzir a sociedade para um equilíbrio é preciso que cada um de nós faça a coisa certa. Sobre fazer a coisa certa, me vem em mente a palavra Karma, existem muitos conceitos equivocados a respeito desta palavra, vamos esquecer o que sabemos para podermos compreender melhor. 

O significado da palavra Karma, em sânscrito é ação, simplesmente isso, ação, toda a ação gera um resultado, quando agimos corretamente os resultados são positivos, quando agimos incorretamente os resultados são negativos. 

Os resultados que colhemos são os frutos das ações que plantamos, livre arbítrio é a possibilidade de escolher o que vamos plantar, nós podemos planejar o nosso futuro a partir das ações, dos karmas, que cultivamos no momento presente. Nós somos senhores do nosso destino, por isso é de fundamental importância reconhecer qual a coisa certa a se fazer, Samyak Karmanta, a correta-ação. 

“Aquele que é firme na vontade molda a si mesmo e ao mundo.” 

Goethe 

O nosso futuro depende das ações que estamos cultivando hoje, quando nós estamos praticando yoga agora, por exemplo, estamos semeando para o nosso futuro os germens de uma vida saudável e equilibrada. 

“O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação.” 

Simone de Beauvoir 

[Final da Primeira aula] 

Na aula passada eu falei sobre o Karma, expliquei que essa palavra significa ação, no sentido de agir, tomar uma atitude, expliquei que toda a ação gera um resultado, agindo corretamente os resultados são positivos, agindo incorretamente os resultados são negativos. 

Existem três categorias de Karmas: prarabdha-karma o karma que já foi criado e está acumulado. Sañchita-karma: o karma que está germinando, amadurecendo. kriyámana-karma: o karma que está sendo criando no momento presente. 

Exemplo: um agricultor tem uma plantação de laranjas, as laranjas que ele está colhendo foram árvores plantadas à 10 anos atrás é o Karma acumulado, as laranjeiras que foram plantadas à 5 anos estão crescendo mas ainda não estão dando frutos é o karma que está germinando, as sementes que ele está plantando hoje é o karma que está sendo criado nesse momento. 

Os karmas acumulados se dividem em três tipos: Dridha (Karma Fixo) é o karma que não podemos mudar, não importa nosso esforço, se plantamos laranjeiras não tem jeito de colhermos maças. Dridha/Adridha (Karma Misto) esse Karma pode ser mudando, mas somente com muito esforço. Adridha (Karma Mutável) o Karma que pode ser mudado sem muito esforço. 

Na aula passada eu também falei que os resultados que estamos colhendo hoje são os frutos das ações que plantamos ontem, por isso é de vital importância nos perguntarmos: como agir corretamente? Como plantar karmas que rendam bons frutos no futuro? Como saber qual a coisa certa a ser feita? Se alguém seguir a risca os mandamentos do cristianismo ou os preceitos do hinduísmo, é garantia de que essa pessoa fará a coisa certa? Existe alguma fórmula que garanta que eu faça a coisa correta? Ou a ação correta tem que ser descoberta de momento a momento? 

Entendem minha pergunta? Para fazer a coisa certa basta seguir algum preceito religioso ou o comando de alguma autoridade? Ou para fazer a coisa certa precisamos desenvolver uma grande sensibilidade e capacidade de avaliar por nós mesmos cada situação?

Obviamente a ação correta só pode ser descoberta através da observação atenta e profunda da situação que se apresenta diante de nós, não está em seguir um código de conduta, não há formulas mágicas, é quando observamos com calma e paciência, sem pré julgamentos, buscando ver com clareza. 

Somente quando temos uma percepção correta das coisas podemos definir qual o melhor curso da ação e estamos aptos a agir da forma certa, a ação-correta (samyak-karmanta) é um fruto de uma observação-correta (samyak-drishti). 

Para desenvolvermos uma visão correta é importante entendermos a não-ação (vikarman), significa não agir por impulso, reativamente, sem ter observado completamente. Muitas vezes nos precipitamos e tomamos uma atitude que não é adequada devido ao fato de nós não termos entendido completamente a situação. 

Mais uma vez as técnicas do Yoga são a chave para cultivarmos a serenidade, a vigilância, a clareza mental, precisamos estar inteiros e presentes em cada situação para podermos avaliar corretamente e não agirmos precipitadamente e definirmos o melhor curso da ação. 

[Final da segunda aula]

André Oliveira é coordenador do Yogazen em Porto Alegre onde ministra aulas regulares de yoga e meditação desde 2004, professor docente pelo Instituto Yoga Integrativa no centro de yoga Montanha Encantada em SC, coordenador da Formação Livre em Meditação, desenvolve diversos cursos e retiros voltados para o autoconhecimento, o curso básico de meditação já recebeu mais de 250 alunos, no curso de formação profissional em meditação já formou mais de 180 professores.

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Trshna - O Desejo Insaciável

O Ser humano é contraditório, e eu não estou falando isso filosoficamente, é um fato! Nós vemos isso acontecendo na sociedade, tem uma parcela da população que está buscando saúde e conhecimento e tem outra parcela que está fazendo exatamente o oposto. 

Existe contradição dentro de cada um de nós, possuímos desejos contraditórios, temos atitudes contraditórias, por exemplo, queremos ter uma vida saudável, mas cultivamos alguns hábitos que são nocivos, esquecemos de fazer exercício, comemos demais, etc. 

Sabemos que para ter saúde é preciso de auto cuidado, cuidar do corpo, da mente e do emocional, porém, algumas vezes nossos hábitos não saudáveis são mais fortes que nossa preocupação com a saúde e assim entramos em contradição, queremos uma coisa, mas fazemos outra. Para eliminar isso precisamos compreender como funciona o desejo, pois são os desejos contraditórios que causam conflito e confusão em nossas vidas.

Desejo, em sânscrito Trshna, significa “estar constantemente com sede”, imagina um sujeito que está sempre com sede e por mais que ele beba a sede não passa, esta é a condição do ser humano, a sede pelos desejos não passa, ela é insaciável, esta insaciabilidade é o motivo principal do sofrimento humano. 

O ser humano é insaciável em relação aos seus desejos, por isso se tornam nocivos e causam contradição, por exemplo, dois pensamentos podem ocorrer simultaneamente: "eu gosto de comer - eu preciso comer menos", a qual deles eu atendo? Existem três categorias de desejos: kāma-trshna (desejo por prazeres sensoriais), bhava-trshna (desejo pela existência) e vibhava-trshna (desejo pela transcendência ou iluminação), entre todos este último é o mais nobre, porém, ainda é um desejo. 

Na próxima aula eu vou explicar como o desejo opera em nossa mente e como funciona o mecanismo que aciona o desejo, por hora é importante saber que para eliminar a contradição de nossas vidas é preciso realizar todas as atividades tendo em mente o auto cuidado, estando inteiro no que quer que você esteja fazendo e sempre cultivando a auto observação.

[continua]

É importante salientar que ao me referir sobre os desejos estou falando especificamente dos desejos nocivos para nossa saúde, nada há de errado o desejo por comida quando estamos com fome, ou por água quando estamos com sede ou mesmo com o desejo sexual, o desejo só é negativo quando nos causa mal, quando se torna uma obsessão e um vício.

O desejo opera em nossa mente com uma imagem e uma argumentação, primeiro surge um estímulo que aciona este desejo, em seguida surge uma imagem de você concretizando este desejo, por fim a mente afirma e justifica este desejo  para si mesma. 

Vou dar um exemplo: você está caminhando na rua, está quente, você está transpirando quando vê no bar da esquina uma geladeira com vários refrigerantes ou cervejas, então a mente cria uma imagem de si mesma pegando aquela bebida bem geladinha (com todos os detalhes), levando até a boca, deglutindo e bebendo aquele líquido, logo surge a argumentação a mente fala para si mesma “estou com sede, quero beber isso, sinto vontade”, assim sentimos desejos pelos objetos sensoriais, imaginando como seria se estivéssemos saciando nossa sede. 

Para reprogramar a nossa mente para fazer o que é saudável ao invés do que é nocivo ao nosso organismo, precisamos criar uma imagem mental e argumentação tão fortes quanto o nosso desejo inicial para poder se opor a ele. Se você quer eliminar o hábito de beber refrigerante ou álcool, deve com intensidade imaginar-se, no momento de sede, bebendo um delicioso suco de frutas, bem gelado, saboroso, cheio de nutrientes, refrescante, saudável, então você visualiza levando este suco até a boca, saboreando, gostando, teu organismo recebendo os benefícios e a satisfação em ter bebido algo saudável, afirmando para si mesmo “este suco é maravilhoso, meu corpo agradece, era exatamente o que eu estava precisando”. 

Dessa forma, através de fortes construções de imagens mentais e visualizações em conjunto com uma argumentação dialética, reforçando em nossa mente aquilo que realmente queremos cultivar ao invés de nos focarmos naquilo que queremos eliminar, podemos enfraquecer os hábitos nocivos e quebrar o círculo vicioso dos desejos, é preciso visualizar com clareza e exatidão cada passo e ação que queremos realizar no próximo dia. Agindo desta forma, com total atenção e lucidez, consciente dos próprios mecanismos mentais, poderemos cuidar melhor de nós mesmos e eliminar as contradições em nossa vida.

"O pensamento é o ensaio da ação."

Sigmund Freud

André Oliveira é coordenador do Yogazen em Porto Alegre onde ministra aulas regulares de yoga e meditação desde 2004, professor docente pelo Instituto Yoga Integrativa no centro de yoga Montanha Encantada em SC, coordenador da Formação Livre em Meditação, desenvolve diversos cursos e retiros voltados para o autoconhecimento, o curso básico de meditação já recebeu mais de 250 alunos, no curso de formação profissional em meditação já formou mais de 180 professores.

Vivikta Sevin - A solidão como refúgio

A prática chamada Vivikta-Sevin é quando se busca intencionalmente a solidão para acalmar e clarear a mente afim de pensar em algum assunto ou refletir sobre algum tema, basicamente fica-se isolado, Vivikta, a palavra tem relação com o terno Viveka que significa discernimento, pois se entende que para ver e compreender claramente precisamos estar na paz da solidão interna.  

O terno Viviktatva, em sânscrito significa solidão, desde o início da pandemia*, nós temos passado cada vez mais tempo sozinhos e para maior parte das pessoas a solidão é uma coisa estranha e assustadora, a maior parte das pessoas não gosta de ficar sozinhas e tenta evitar a solidão a qualquer custo.

Quando sozinhas em casa essas pessoas ligam a televisão ou passam seu tempo nas redes sociais, você pode se esconder da solidão se mantendo ocupado com as atividades diárias como arrumar a casa ou através dos rituais religiosos, em casos extremos, para fugir da solidão as pessoas apelam para as drogas.

O fato é que a maioria tem medo da solidão, quando estamos fugindo da solidão estamos fugindo de nós mesmos, da nossa própria companhia, dos nossos próprios pensamentos e sentimentos.

Com a prática do yoga e principalmente da meditação começamos a dar valor para os momentos em que estamos sozinhos, utilizamos a solidão como uma oportunidade de aprendizado para se conhecer melhor, para estar consciente de si mesmo e de seus próprios sentimentos, fazer as pazes consigo mesmo, reencontrar seu próprio ritmo e encontrar os seus próprios valores.

"A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais."

Arthur Schopenhauer 

No momento em que nós sentamos para praticar Yoga estamos na verdade buscando um momento de solidão, mesmo que nós estejamos praticando em grupo, durante a prática estamos sozinhos, sozinho não significa ficar solitário (Suvivikta), solitário é quando estamos afastados emocionalmente dos outros, a solidão que o praticante busca chamada de Vivikta Sevin é de outra natureza.

O praticante de Yoga busca intencionalmente a solidão para desenvolver mais clareza mental, auto conhecimento e para estar mais alinhado consigo, para estar mais alinhado com sua real natureza para assim poder ser mais verdadeiro e autêntico no relacionamento com a vida e com os outros. 

Ao buscar a solidão, nós praticantes de yoga, não estamos querendo fugir dos problemas do mundo e das nossas obrigações, não estamos buscando isolamento mas sim um espaço sagrado, um refúgio onde podemos restabelecer a ordem interna.  

"Não te irrites, por mais que te fizerem
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio."

Mario Quintana

André Oliveira é professor docente pelo Instituto Yoga Integrativa no centro de yoga da Montanha Encantada em SC, coordenador da Formação Livre em Meditação, já formou mais de 180 professores de meditação e auxiliou na formação de mais de 150 professores de yoga, coordenador do Yogazen em Porto Alegre onde ministra aulas regulares de yoga e meditação desde 2004.

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*Texto escrito em Março de 2021 no auge da Pandemia de Corona Vírus, mais de 2.000 mortos por dia)